O Jogo de Sons: Explorando as Interconexões entre Erros e Realidades Alternativas

 






O texto a seguir faz parte de um projeto que tenho para desenvolver uma série de ensaios sobre os erros. Pretendo criar uma exposição não sistemática, aforismática ou ensaística, abordando a formação dos erros em diversos domínios ou segmentos da realidade. No momento, meu foco principal é explorar como determinados erros são construídos, de modo que a noção de erro possa ser tratada no nível fisiológico, e como isso pode, de alguma forma, reverberar no nível psicológico ou na sensopercepção. Para isso, começaremos abordando definições de fisiologia, fisiologia da audição, psicopatologia e temas afins, até chegarmos a uma conclusão satisfatória sobre o assunto.

Dito isso, vamos adiante com o tema!

Fisiologia é o estudo científico das funções normais dos organismos vivos e de seus componentes, incluindo células, tecidos, órgãos e sistemas. Ela explora como os organismos vivos realizam funções essenciais como a respiração, a circulação sanguínea, a digestão, a excreção, a percepção sensorial, o movimento e a reprodução. A fisiologia abrange tanto as funções normais de organismos saudáveis quanto as alterações que ocorrem em resposta a estímulos externos, como a atividade física, a nutrição, o estresse e as doenças. A fisiologia é uma disciplina fundamental para a compreensão da biologia e da medicina, e tem aplicações em diversas áreas, como a agricultura, a engenharia biomédica e a indústria farmacêutica.

O corpo humano é composto por vários sistemas que trabalham juntos para manter a homeostase, ou seja, o equilíbrio interno do organismo. A seguir, descrevo brevemente a fisiologia dos principais sistemas do corpo humano a título de exemplo: 

Sistema nervoso: o sistema nervoso é responsável por controlar e coordenar as funções corporais, respondendo a estímulos internos e externos. Ele é composto por células nervosas, neurônios, e por células de suporte, glia. O sistema nervoso pode ser dividido em sistema nervoso central, que inclui o cérebro e a medula espinhal, e sistema nervoso periférico, que inclui os nervos que se estendem a partir do sistema nervoso central para outras partes do corpo. O sistema nervoso é responsável por funções como o controle da respiração, da frequência cardíaca, da temperatura corporal e dos movimentos musculares voluntários.

Sistema cardiovascular: o sistema cardiovascular é responsável por transportar sangue, nutrientes, oxigênio e hormônios por todo o corpo. Ele é composto pelo coração, vasos sanguíneos e sangue. O coração é responsável por bombear o sangue, enquanto os vasos sanguíneos são responsáveis por transportá-lo. O sangue é composto por células sanguíneas (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas) e plasma, e é responsável por transportar nutrientes e oxigênio para os tecidos, remover resíduos metabólicos e transportar hormônios.

Sistema respiratório: o sistema respiratório é responsável por transportar oxigênio para as células do corpo e remover dióxido de carbono. Ele é composto pelos pulmões, traqueia, brônquios e alvéolos. O processo de respiração começa com a inalação do ar pelos pulmões, onde o oxigênio é absorvido pelos alvéolos e transportado para o sangue. Em seguida, o dióxido de carbono é liberado pelos tecidos e levado de volta aos pulmões, onde é exalado.

Sistema digestório: o sistema digestório é responsável por processar e digerir alimentos, absorver nutrientes e eliminar resíduos. Ele é composto pela boca, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, fígado, pâncreas e ânus. O processo de digestão começa na boca, onde os alimentos são mastigados e misturados com a saliva, que contém enzimas digestivas. O alimento passa pelo esôfago até chegar ao estômago, onde é quebrado por ácido e enzimas digestivas. Em seguida, o alimento é transportado para o intestino delgado, onde é absorvido. O que não é absorvido passa para o intestino grosso, onde é formado o bolo fecal que será eliminado pelo ânus.

Sistema urinário: o sistema urinário é responsável por eliminar resíduos metabólicos do sangue e regular o equilíbrio de água e eletrólitos no corpo. Ele é composto pelos rins, ureteres, bexiga e uretra.

Uma vez que passamos pelos demais sistemas, iremos nos fixar no aspecto autidivo. Esse sistema é ilustrativo na hora de compreender a noção de erro. Ao menos erro na dimensão fisiológica - ademais, pois o erro tem, desde os céticos antigos, uma forte relação para com os limites e distorções sensoriais. 

O sistema auditivo é responsável por captar e processar sons e transmitir essas informações para o cérebro. Ele é composto por várias estruturas anatômicas e fisiológicas, que trabalham juntas para realizar essa função.

Suas partes e funções são: orelha externa é a parte visível da orelha, que inclui a orelha e o canal auditivo. A orelha ajuda a coletar sons e direcioná-los para o canal auditivo; a orelha média é composta pelo tímpano, três ossículos (martelo, bigorna e estribo) e uma pequena cavidade chamada de caixa timpânica. O tímpano é uma membrana fina que vibra em resposta aos sons e os ossículos amplificam essas vibrações para transmiti-las para a orelha interna; a orelha interna é composta pelo labirinto ósseo e pelo labirinto membranoso. O labirinto membranoso é preenchido com um fluido chamado endolinfa, que é responsável por transmitir as vibrações sonoras para as células sensoriais; ademais, as células sensoriais: são células especializadas localizadas na cóclea, a parte do labirinto membranoso que é responsável pela audição. Essas células sensoriais transformam as vibrações sonoras em sinais elétricos que são transmitidos para o cérebro.

Agora iremos rapidamente passar pela fisiologia do sistema auditivo:

A captura do som se dá na orelha externa ajuda a capturar os sons do ambiente e direcioná-los para o canal auditivo. Este som é ampliado no tímpano e os ossículos amplificam as vibrações sonoras e as transmitem para o labirinto membranoso. disso, então, se dá a transformação das vibrações sonoras em sinais elétricos: as células sensoriais localizadas na cóclea transformam as vibrações sonoras em sinais elétricos que são transmitidos para o cérebro através do nervo auditivo. No cérebro ocorre o processamento das informações auditivas: no cérebro, as informações auditivas são processadas em várias áreas, incluindo o córtex auditivo, que é responsável por interpretar e reconhecer diferentes tipos de sons.

Além disso, o sistema auditivo também é capaz de realizar algumas funções importantes, como a localização do som e a filtragem de sons indesejados. A localização do som é realizada através de diferenças de tempo e intensidade entre os sons que chegam a cada ouvido. A filtragem de sons indesejados é realizada através da atenuação dos sons que chegam a orelha interna através do músculo estapediano, que está presente na orelha média e é responsável por reduzir a transmissão dos sons quando se emite um som alto.

Ufa! Uma vez que conhecemos a lógica de funcionamento dos sistemas corporais, na medida que queremos tratar de alucinações auditivas, iremos primeiro explicar um pouco do que seria psicopatologia. 

Psicopatologia é o estudo das patologias mentais, incluindo suas causas, sintomas, classificação e tratamento. Ela engloba diversas condições, desde transtornos de ansiedade e depressão até transtornos psicóticos e de personalidade.

Delírio é uma crença ou convicção falsa que é mantida mesmo diante de evidências em contrário. Pode ser um sintoma de vários transtornos psiquiátricos, incluindo transtornos psicóticos como a esquizofrenia, bem como transtornos afetivos como a depressão grave ou transtornos de ansiedade. Os delírios podem ser de diferentes tipos, como delírios persecutórios, delírios de grandeza, delírios somáticos, entre outros.

Alucinação é uma percepção sensorial que não corresponde a nenhuma fonte real de estímulo. Ela pode ocorrer em qualquer modalidade sensorial, mas é mais comum em relação à audição e visão. As alucinações também podem ser um sintoma de várias condições, incluindo transtornos psicóticos como a esquizofrenia, transtornos afetivos, como a depressão grave com características psicóticas, e também pode ser provocada por uso de drogas ou álcool.

As prováveis causas dos delírios e alucinações são diversas e variam de acordo com a condição psiquiátrica envolvida. Em geral, as principais causas incluem desequilíbrios químicos no cérebro, alterações na conectividade e na função cerebral, além de fatores ambientais e psicossociais. A esquizofrenia, por exemplo, está associada a alterações na neurotransmissão de dopamina, enquanto a depressão grave pode estar relacionada a desequilíbrios nos neurotransmissores serotonina, noradrenalina e dopamina. As alucinações também podem ser provocadas por uso de drogas psicotrópicas ou abstinência de álcool.

A alucinação auditiva é uma experiência perceptiva em que uma pessoa ouve sons que não têm uma fonte externa real. Essa experiência pode ser assustadora e desconfortável para a pessoa que a vivencia, e pode ser um sintoma de vários transtornos psiquiátricos.

No contexto da produção de erro de percepção, a alucinação auditiva pode ocorrer quando há uma falha no processamento da informação sensorial que é recebida pelo sistema auditivo. Essa falha pode levar a uma interpretação errada dos sinais sensoriais e à percepção de sons que não estão realmente presentes. Em outras palavras, a alucinação auditiva é uma espécie de erro na interpretação da informação sensorial.

Os erros na percepção podem levar a uma série de problemas, incluindo confusão e dificuldade em determinar o que é real e o que não é. Isso pode ser especialmente problemático no contexto de transtornos psiquiátricos, como a esquizofrenia, em que os sintomas psicóticos podem tornar difícil para a pessoa discernir o que é real e o que é imaginário.

Além disso, esses erros de percepção podem afetar a tomada de decisão e o comportamento da pessoa, pois a interpretação equivocada da informação sensorial pode levar a uma resposta inadequada ou inadequada a uma situação.

Interessante é como determinados detalhes estariam na formação de complexos religiosos ou culturais. 

A alucinação auditiva pode ter um papel significativo na formação de crenças religiosas e em alguns rituais religiosos. Quando uma pessoa experimenta alucinações auditivas, ela pode interpretar essas experiências como vozes ou mensagens divinas. Essas interpretações podem levar à formação de crenças religiosas profundas e à adesão a um conjunto de dogmas e rituais.

Em alguns casos, as pessoas que experimentam alucinações auditivas podem acreditar que estão recebendo mensagens de divindades ou espíritos, e essas mensagens podem ser interpretadas como orientações sobre como viver a vida ou como se comportar em determinadas situações. Essas crenças podem se tornar dogmas e levar à formação de um conjunto de regras e práticas que são seguidas por um grupo de pessoas que compartilham a mesma fé.

A alucinação auditiva também pode desempenhar um papel nos rituais religiosos. Em algumas tradições religiosas, os participantes são encorajados a entrar em um estado de transe ou meditação, o que pode aumentar a probabilidade de experimentar alucinações. Essas experiências podem ser interpretadas como comunicações divinas ou experiências espirituais, o que pode reforçar a crença e a adesão aos rituais.

É importante ressaltar que a alucinação auditiva não é exclusiva das experiências religiosas e não é um sinal de espiritualidade ou iluminação. Também é importante distinguir entre alucinações e experiências espirituais legítimas. A interpretação das experiências pode variar dependendo da cultura, da tradição e do contexto em que ocorrem.

Finalmente, através desta breve exposição, podemos rapidamente compreender o funcionamento do sistema auditivo, assim como as psicopatologias e a produção de elucidação, e como essas ligações podem resultar em erros. Podemos também observar como determinadas imprecisões podem ser transformadas em alucinações, precisões humanas consagradas e ritualizadas, a fim de fundamentar grandes sistemas de crenças, pensamentos e condutas. Isso é fascinante! Portanto, não se trata aqui de uma crítica direta à religião, mas sim de compreender como as tradições, crenças e sistemas de pensamento podem ser fundamentados no erro. É evidente que, ao olharmos para trás, por exemplo, para situações passadas ou fenômenos já bem datados, podemos identificar claramente esses processos, mas é sempre importante trazê-los à tona e, sobretudo, mostrar, como tento fazer aqui, que nada garante que mesmo hoje esses fenômenos de produção de erro a partir de imprecisões biopsicossociais sejam impossíveis.

Nesse contexto, gostaria de levantar um problema: o que garante e dá validade às nossas crenças contemporâneas? O que nos faz pensar que nossa época superou grandes mitos ou mesmo erros? Apesar de mencionar a produção do erro a partir do acidente como um fenômeno incrivelmente enigmático, a ponto de engendrar sistemas de crenças, pensamento e conduta tanto no âmbito religioso quanto político, isso também pode ocorrer no campo da ciência e em outros domínios. Não existe, digamos assim, um local especial onde os erros aconteçam e outros não.

Agora, situando o meu projeto, a ideia seria que este ensaio compusesse parte de um capítulo que tenta descrever de forma literária, ou seja, não científica, mas também não tão prescritiva, algo como o erro, como, por exemplo, o desvio do alvo. Portanto, na obra que pretendo escrever, este texto talvez representaria aquele aspecto que tenta fundamentar parte do que será tratado adiante.

Thiago Carvalho 

17 de março de 2024

    Campos-RJ


Referências: 

Amabis, J. M.; Martho, G. R. Fundamentos da Biologia Moderna - Volume Único. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. 

Dalgalarrondo, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 2018.

Morin, E. Para Sair do Século XX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.


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