A vontade na psicologia contemporânea





A palavra "vontade" tem origem no latim "voluntas", que por sua vez deriva do verbo "velle", que significa "querer" ou "desejar". "Voluntas" evoluiu para "vontade" nas línguas românicas, como o português, o espanhol (voluntad) e o italiano (volontà). Em essência, "vontade" refere-se ao desejo, à disposição ou à determinação de uma pessoa em fazer algo.

Na antiguidade, o conceito de vontade era visto de maneira diferente do que é hoje. Na filosofia grega, por exemplo, a vontade era considerada uma das funções da alma, junto com a razão e a emoção. Platão, em sua obra "A República", descreve a alma humana como composta por três partes: a razão, a vontade e a paixão. Já Aristóteles, em sua obra "Ética a Nicômaco", distingue entre duas formas de vontade: a racional e a irracional.

Aristóteles acreditava que a vontade racional era a capacidade de escolher e agir de acordo com a razão e a moralidade, enquanto a vontade irracional era influenciada por desejos e impulsos que não eram baseados na razão. Ele via a vontade como um meio de alcançar a felicidade e a virtude, e acreditava que a educação e o treinamento eram essenciais para o desenvolvimento da vontade.

Na Idade Média, a vontade foi vista de maneira diferente, influenciada pela teologia cristã. Santo Agostinho, em sua obra "Confissões", descreve a vontade como uma capacidade divina que permite aos seres humanos escolher entre o bem e o mal. Ele acreditava que a vontade era afetada pelo pecado original e que somente a graça divina poderia permitir que a vontade humana escolhesse o bem.

Na modernidade, o conceito de vontade evoluiu com o surgimento da filosofia moderna e da psicologia. Filósofos como Immanuel Kant e Friedrich Nietzsche desenvolveram novas teorias sobre a vontade, enfatizando sua importância na moralidade e na ação humana. Kant acreditava que a vontade era a capacidade de agir de acordo com a razão pura, enquanto Nietzsche via a vontade como uma força vital que impulsiona a vida humana.

Na psicologia, a vontade é vista como um aspecto importante do comportamento humano, envolvendo a capacidade de escolher e agir de forma consciente e deliberada. A psicologia cognitiva e a psicologia da personalidade estudam como a vontade é formada e como ela influencia o comportamento humano. Alguns teóricos, como Roy Baumeister, sugerem que a força de vontade é um recurso limitado que pode ser esgotado ao longo do tempo, enquanto outros, como Martin Seligman, enfatizam a importância do treinamento e do desenvolvimento da vontade para a promoção da saúde mental.

Em resumo, ao longo da história, o conceito de vontade passou por uma evolução influenciada pela filosofia, teologia e psicologia. Na antiguidade, era entendida como uma função da alma, dividida em sensitiva, vegetativa e racional, enquanto na Idade Média era considerada uma capacidade divina. Na modernidade, surgiram novas teorias destacando sua importância na moralidade e ação humana. Atualmente, é compreendida como um aspecto significativo do comportamento humano sob uma perspectiva neurofisiológica, influenciando escolhas e ações. Além disso, a preocupação com esse tema será ainda mais aprofundada quando consideramos conceitos como distorção cognitiva e vontade de inverdade, que exigem uma dissonância entre o intelecto orientado pela apreensão lógico-veritativa e o afeto.

Thiago Carvalho

    Campos-RJ


Referências:

Aristóteles. (2008). Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin Claret. 

Mondin, B. (1997). Curso de Filosofia - Vol. 1 (1ª ed.). São Paulo: Paulus Editora.

Schultz, D. P., & Schultz, S. E. (2023). História da psicologia moderna. Cengage Learning. (Livro digital).


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