As máscaras dos homens

 






A existência do ser é inegável, porém, frequentemente encontra-se obstruída. Os fatos, quando percebidos corretamente, são adequados. Contudo, nem todos os fatos se mostram convenientes para a realidade de cada indivíduo. Quando isso ocorre, torna-se necessário reinterpretá-los. Essa necessidade de reinterpretar está ligada à manipulação dos signos, símbolos, sentidos e significados, ajustando-os para se adequarem à conjuntura vigente.

Portanto, essa modulação do ser, que é constante e inerente à comunicação humana, surge de interesses sociais, políticos e antropológicos. Sem essa modulação, certos interesses, necessidades e desejos permaneceriam irrealizados. A interação humana depende dessa flexibilidade na interpretação da realidade. Sem ela, a comunicação e o entendimento mútuo seriam impossíveis.

Neste contexto, o ser humano muitas vezes se recusa a aceitar o que é, optando pelo não-ser como meio de se realizar enquanto ente errante, ou seja, como ser desejante. É neste horizonte que surgem comportamentos como a hipocrisia, o cinismo, a mentira, a falsidade, a manipulação, a crueldade, o roubo, a traição conjugal e outras expressões da humanidade. Estes comportamentos são manifestações da luta contínua entre a realidade do ser e as pressões sociais e pessoais que levam à sua modulação.

A hipocrisia, por exemplo, surge quando o indivíduo apresenta uma fachada que difere de seus verdadeiros sentimentos ou intenções. Esse comportamento é uma resposta às pressões sociais para conformar-se a determinados padrões ou expectativas. Da mesma forma, o cinismo reflete uma atitude de desdém ou descrença nos valores socialmente aceitos, frequentemente utilizado como mecanismo de defesa contra a desilusão. 

A mentira e a falsidade são técnicas de manipulação da realidade, usadas para obter vantagens ou evitar consequências indesejadas. Esses atos alteram a percepção dos fatos, ajustando-os aos interesses do mentiroso. A manipulação é uma extensão dessas técnicas, onde o controle dos signos e significados é utilizado para influenciar o comportamento alheio em benefício próprio.

A crueldade, o roubo e a traição conjugal são exemplos extremos dessa modulação do ser. A crueldade pode ser vista como uma expressão de poder e controle, uma forma de impor a própria vontade sobre os outros. O roubo, por outro lado, é uma negação direta da realidade do outro em favor do próprio desejo. A traição conjugal, além de envolver a manipulação da confiança e dos sentimentos, representa a busca egoísta pela satisfação pessoal, mesmo que isso cause dor a terceiros.

Essas manifestações do não-ser refletem a complexa natureza humana, onde a necessidade de realização pessoal e satisfação de desejos frequentemente entra em conflito com as normas sociais e morais. A humanidade, em sua essência, é marcada por essa dualidade: a luta constante entre o ser autêntico e a pressão para conformar-se a realidades impostas.

Esse cenário evidencia a importância da modulação do ser. Sem ela, a comunicação seria estática, incapaz de acomodar a diversidade de experiências e perspectivas humanas. A capacidade de reinterpretar e ajustar a realidade é o que permite à humanidade evoluir, adaptando-se a novas circunstâncias e desafios. É através dessa flexibilidade que se torna possível a criação de novas ideias, a resolução de conflitos e o progresso social.

Em resumo, o ser, embora obstruído, está sempre presente e em constante transformação. A manipulação dos fatos e dos signos, a modulação do sentido e significado, são ferramentas essenciais para a realização dos desejos e necessidades humanas. No entanto, essas mesmas ferramentas podem levar a comportamentos moralmente questionáveis, refletindo a complexa e contraditória natureza da humanidade. A dualidade entre o ser e o não-ser, entre a realidade e a sua manipulação, é o que define a experiência humana e a dinâmica da interação social.


Thiago Carvalho.

02 de agosto de 2024

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