NOÇÕES DE LÓGICA – PARTE IV: SOBRE AS IMPLICAÇÕES DA VERDADE EM ÂMBITO PÓS-LÓGICO

 





PARTE IV – PÍLULA FILOSÓFICA

 

7 — A CONTESTAÇÃO DA VERDADE PELO PENSAMENTO PÓS-MODERNO

Importantes autores do pensamento pós-moderno

A contestação da verdade pelo pensamento pós-moderno tem suas raízes nas críticas ao Iluminismo e ao racionalismo. Os pensadores pós-modernos argumentam que a noção de verdade objetiva é uma construção social e histórica, e que, portanto, a verdade é influenciada pela cultura, pela linguagem e pelas relações de poder. Eles afirmam que as verdades são relativas e que não há uma verdade absoluta.

O pós-modernismo contesta a ideia de que a razão e a ciência podem fornecer respostas definitivas para as questões filosóficas e sociais. Eles argumentam que a ciência e a razão são tão influenciadas pelo contexto cultural quanto qualquer outra forma de conhecimento. Além disso, os pensadores pós-modernos argumentam que as verdades são construídas por grupos sociais dominantes e que há uma luta constante pelo poder e pela hegemonia em relação ao que é considerado verdadeiro.

Entre os autores pós-modernos mais conhecidos estão Michel Foucault, Jacques Derrida e Jean Baudrillard. Esses autores apontam para a importância da linguagem, da cultura e das relações de poder na formação de verdades e argumentam que a verdade é um construto social e histórico, e não algo dado objetivamente.

Principais escolas do pensamento pós-moderno

No pensamento pós-moderno, várias escolas surgiram que questionam a existência da verdade substancial ou objetiva. Algumas das principais escolas são:

Desconstrução: Desenvolvida por Jacques Derrida, a desconstrução argumenta que a verdade é inalcançável e que todas as afirmações são relativas ao contexto cultural e histórico.

Teoria da pós-modernidade: Esta escola argumenta que a verdade é uma construção social e que não há uma realidade objetiva fora das narrativas sociais.

Teoria do pós-estruturalismo: Esta escola argumenta que a verdade é resultado da relação entre símbolos e signos, e que não existe uma realidade fora da linguagem.

Feminismo pós-moderno: Este movimento argumenta que a verdade é uma construção cultural e que as narrativas dominantes são frequentemente perpetuadas ao longo do tempo, perpetuando as desigualdades de gênero.

Essas escolas pós-modernas questionam a existência da verdade objetiva e argumentam que a verdade é uma construção social e cultural, em vez de algo imutável e universal.

O problema de uma visão substancial de mundo – a negação do pensamento metafísico [ser, ente, causa-efeito, ato-potência]

A negação da visão substancial de mundo é uma característica do pensamento pós-moderno, que contesta a concepção de uma realidade objetiva, independente da percepção humana. Essa visão sustentada pela filosofia platônica e aristotélica, defende a existência de entidades imutáveis e verdades eternas. Já o pensamento pós-moderno afirma que a verdade é construída socialmente, e portanto, subjetiva.

De acordo com a concepção pós-moderna, os conceitos de "ser", "ente" e "causa-efeito" não correspondem a realidades objetivas, mas sim às construções sociais e históricas que foram estabelecidas ao longo do tempo. Assim, a verdade não é algo fixo, mas sim algo que está sempre em constante transformação.

Já o conceito de "ato-potência" é negado pela concepção pós-moderna, uma vez que a filosofia aristotélica defende a existência de uma realidade objetiva que é alcançada pelo ato. Para o pensamento pós-moderno, o ato não é algo que se realiza a partir da potência, mas sim algo que é construído socialmente.

Em resumo, a contestação do pensamento metafísico de origem platônico-aristotélica por parte do pensamento pós-moderno se dá pela negação da existência de verdades eternas e objetivas, e pela afirmação de que as verdades são construções sociais e históricas.

Principais autores contrários ao pensamento pós-moderno

Não há uma escola de pensamento ou corrente filosófica específica que se oponha ao pensamento pós-moderno de maneira unânime. No entanto, é comum que alguns filósofos clássicos, como Aristóteles, Platão e Immanuel Kant, sejam apontados como opostos a algumas das ideias pós-modernas. Além disso, alguns pensadores conservadores e católicos, como Roger Scruton, Allan Bloom e Pope John Paul II, também criticaram aspectos do pensamento pós-moderno, argumentando que ele mina valores tradicionais e a moralidade. No entanto, é importante destacar que estas críticas variam de intensidade e de acordo com a perspectiva de cada autor.

8 — A INVESTIDA SUBJETIVISTA NA CONTESTAÇÃO DA VERDADE

O subjetivismo

O subjetivismo é uma corrente filosófica que argumenta que a verdade é uma construção subjetiva, que depende da perspectiva individual e dos valores e experiências pessoais de cada indivíduo. De acordo com esta perspectiva, não existe uma verdade objetiva e universal, mas apenas verdades relativas a cada sujeito.

Alguns dos principais autores do subjetivismo incluem René Descartes, Immanuel Kant, Friedrich Nietzsche, Martin Heidegger e Jean-Paul Sartre. O subjetivismo tem raízes no século XVII, com o surgimento do racionalismo, e tornou-se particularmente influente na filosofia moderna e no pensamento pós-moderno.

O relativismo circunstancialista

O relativismo circunstancialista é uma corrente filosófica que afirma que a verdade e o erro, o certo e o errado, não são universais e imutáveis, mas sim são relativos a circunstâncias específicas, históricas e culturais. Isso significa que o que é verdadeiro ou certo em um contexto pode ser considerado falso ou errado em outro.

Esta noção é usada para contestar a ideia de mundo substancialista, onde há fatos objetivos e universais, além de interpretações subjetivas. O relativismo circunstancialista argumenta que não há fatos independentes de interpretações, e que as verdades e valores são construções sociais e históricas.

Este tipo de relativismo é diferente do relativismo moral, que afirma que não há critérios universais para julgar o que é certo ou errado. O relativismo circunstancialista afirma que as verdades e valores são relativos a circunstâncias específicas, e não que eles são completamente subjetivos e sem fundamento.

Em resumo, o relativismo circunstancialista argumenta que a verdade e o certo são relativos a circunstâncias históricas e culturais, e não são universais e imutáveis, como defendido pelo mundo substancialista.

A contestação da hierarquia

O pensamento pós-moderno questiona a ideia de racionalidade como sendo universal e objetiva. Para os filósofos pós-modernos, a racionalidade não é vista como algo imutável e inquestionável, mas sim como algo construído socialmente e historicamente, e que está sempre sujeita a mudanças. Nesta perspectiva, a racionalidade não é vista como algo absoluto e imutável, mas sim como algo construído social e culturalmente.

A construção social da racionalidade é vista como sendo moldada por diferentes interesses, valores e poder. Assim, o que é considerado como sendo verdadeiro ou racional não é uma questão de objetividade, mas sim de subjetividade. Isso significa que as verdades e as noções de racionalidade são moldadas pela cultura, pela política, pela história, entre outros fatores.

Desta forma, a constatação da racionalidade está em questão quando o pensamento pós-moderno questiona toda hierarquia ou diferença, pois a noção de verdade e racionalidade não são mais vistas como sendo algo objetivo, mas sim como algo construído e moldado pelos interesses e poderes sociais e culturais. Desta forma, as verdades e as noções de racionalidade não são mais vistas como sendo universais e imutáveis, mas sim como sendo relativas e sujeitas a mudanças.

9 — A INVESTIDA PSICOLOGIZANTE CONTRA A VERDADE

A leitura psicológica do problema da verdade

A leitura psicológica do problema da verdade está relacionada ao estudo da forma como a mente humana processa e interpreta informações para chegar a julgamentos e crenças sobre a verdade. Nesta perspectiva, a verdade é compreendida como um produto do funcionamento mental, e não como uma realidade objetiva e independente.

A psicologia da verdade tem investigado como fatores como as crenças pessoais, as expectativas, as emoções e a atenção influenciam a forma como as pessoas avaliam informações e formam julgamentos sobre a verdade. Além disso, a leitura psicológica também tem explorado como as habilidades cognitivas, como a memória, a percepção e a razão, afetam a forma como as pessoas avaliem a verdade.

Em geral, a leitura psicológica do problema da verdade sugere que a verdade é construída subjetivamente e pode ser influenciada por uma ampla variedade de fatores psicológicos e sociais.

A verdade na psicanálise

Na psicanálise freudiana, a verdade é vista como algo que é construído a partir da subjetividade do indivíduo e é moldada por sua história pessoal, desejos, medos e conflitos inconscientes. De acordo com Freud, a verdade é algo que é moldado pelas forças inconscientes que atuam na mente humana e pode ser distorcido por defesas psicológicas, como a negação e a repressão. A verdade não é vista como algo absoluto ou objetivo, mas sim como algo que é subjetivo e influenciado por diferentes fatores psicológicos. A partir desse ponto de vista, a verdade é uma construção psicológica e não uma realidade externa ao sujeito.

Na psicanálise lacaniana, a verdade é vista como algo que está além da realidade imediata e que é revelada através da linguagem e do significante. De acordo com Lacan, o sujeito é preso ao significante e é através desta ligação que a verdade se revela. O significado não é dado pela realidade objetiva, mas sim pelo uso que se faz da linguagem. Assim, a verdade é construída socialmente através da linguagem, e não pode ser acessada diretamente. Em sua teoria, a verdade não é uma coisa estabelecida, mas sim algo que está sempre sendo construído e reinterpretado a partir de uma perspectiva subjetiva.

A verdade no senso-comum

O senso-comum é uma forma de conhecimento popular e não especializado que as pessoas usam no dia a dia. Na lida com o problema da verdade, o senso-comum geralmente se baseia em julgamentos e crenças compartilhados por uma cultura ou grupo social. Essas crenças são frequentemente transmitidas de geração a geração, sem questionamentos críticos, e são aceitas como verdadeiras porque são comuns e compartilhadas por muitas pessoas. No entanto, a verdade na perspectiva do senso-comum nem sempre é comprovada cientificamente ou é verificável, e muitas vezes pode ser influenciada por preconceitos, superstições e mitos.

10 — A NEGAÇÃO DA VERDADE COMO SUBTERFÚGIO PSICOLÓGICO CONTRA A EXORTAÇÃO

A negação da verdade em sentido tradicional e forte tem sido vista por alguns filósofos como uma forma de escapar das expectativas morais e sociais, já que a negação de uma verdade objetiva permite uma maior flexibilidade nas ações e escolhas individuais. No entanto, esta é apenas uma das muitas perspectivas sobre o assunto e pode haver outras explicações para a negação da verdade.

Não há uma opinião unânime entre filósofos e intelectuais a respeito da negação da verdade em sentido tradicional e forte como subterfúgio psicológico contra a exortação moral. Alguns filósofos argumentam que a negação da verdade é uma resposta a uma sociedade moralmente repressiva, enquanto outros argumentam que é uma consequência da falta de consenso sobre o que é verdadeiro. Outros ainda acreditam que é uma combinação de ambos. Por outro lado, existem também filósofos e intelectuais que argumentam que a negação da verdade é uma consequência da falta de evidência ou compreensão adequada do mundo. É importante destacar que essas são apenas algumas das perspectivas, e que cada indivíduo tem sua própria opinião sobre o assunto.

Paradigma da pós-modernidade

A pós-modernidade é um paradigma filosófico que surgiu na segunda metade do século XX e que representa uma reação contra as ideias modernas. O modernismo tinha como pressuposto a existência de uma verdade objetiva e universal, que poderia ser alcançada através do conhecimento científico e da razão. A pós-modernidade, por outro lado, nega a existência de uma verdade absoluta e universal, e defende a ideia de que a verdade é subjetiva e relativa ao indivíduo e à cultura que ele pertence.

A pós-modernidade é influenciada por diversos autores e movimentos, como o filósofo Friedrich Nietzsche, o antropólogo Claude Lévi-Strauss, o filósofo Jean-François Lyotard, o sociólogo Michel Foucault e o filósofo Jacques Derrida. Cada um destes autores trouxe sua própria visão e contribuição para o pensamento pós-moderno, mas todos eles compartilham da ideia de que a verdade é construída socialmente e que o conhecimento é sempre parcial e limitado.

Nietzsche questionou o valor da razão e da verdade objetiva, defendendo a ideia de que as verdades são apenas perspectivas individuais. Lévi-Strauss argumentou que a cultura é construída através de símbolos e mitos, e que o conhecimento é sempre mediado por estas estruturas culturais. Lyotard criticou a ideia de que a verdade pode ser alcançada através do conhecimento científico e da razão, defendendo a ideia de que a verdade é construída por uma rede de discursos e narrativas.

Foucault argumentou que as verdades são construídas através do poder, e que as instituições sociais são as principais responsáveis pela produção e difusão de verdades. Derrida, por sua vez, questionou a noção de que a linguagem pode representar a realidade de forma objetiva e precisa, defendendo a ideia de que a linguagem é sempre insuficiente para representar a verdade de forma plena e precisa.

Em resumo, em relação às verdades estabelecidas e ao conhecimento institucionalizado. A pós-modernidade argumenta que as verdades absolutas são simplesmente narrativas construídas por grupos sociais e políticos dominantes, e que estas narrativas são utilizadas para impor padrões e valores dominantes sobre outros grupos. Além disso, a pós-modernidade enfatiza a importância da desconstrução e da ironia, como formas de libertar o indivíduo das narrativas dominantes e permitir uma reflexão crítica sobre o mundo e a sociedade. A pós-modernidade é uma corrente filosófica que questiona as verdades universais e aponta para a importância da diversidade e da multiplicidade de perspectivas na construção do conhecimento.

O que é desoneração moral

A "desoneração moral" pode ser entendida como a perda da noção de responsabilidade moral ou ética em uma sociedade. Em outras palavras, a desoneração moral ocorre quando as pessoas deixam de se sentir responsáveis pelo impacto de suas ações no mundo e nas outras pessoas.

Relativismo moral é uma corrente filosófica que afirma que não há valores morais absolutos e universais, e que a moral é relativa ao tempo, à sociedade e ao indivíduo. Nesse sentido, o relativismo moral pode ser visto como um fator que contribui para a desoneração moral, já que ele sugere que não há verdades morais objetivas e que cada indivíduo tem o direito de estabelecer suas próprias normas éticas.

A sociedade líquida, segundo o filósofo Zygmunt Bauman, é caracterizada por sua incerteza, flexibilidade e insegurança. Nessa sociedade, as relações sociais, políticas e econômicas são vistas como frágeis e mudam rapidamente. Dessa forma, a desoneração moral pode ser uma consequência da lógica da sociedade líquida, já que, nesse contexto, as pessoas tendem a se preocupar mais com suas próprias necessidades imediatas e menos com o impacto de suas ações no mundo ao seu redor.

Mundo liquido

Zygmunt Baumann é um sociólogo polonês conhecido por sua teoria do "mundo líquido". O termo é utilizado por ele para descrever as transformações sociais e culturais que ocorreram na modernidade, especialmente a partir do século XX.

Baumann argumenta que antes, as instituições sociais eram sólidas e permanentes, e que as pessoas eram capazes de formar relações estabelecidas e duradouras. No entanto, com o passar do tempo, essas instituições se tornaram mais instáveis e transitórias, resultando em uma sociedade líquida, onde as relações sociais são temporárias e voláteis.

Além disso, o sociólogo destaca que o mundo líquido é caracterizado por uma falta de certezas e de sentido de estabilidade. Nesta sociedade, as pessoas são constantemente confrontadas com mudanças e incertezas, tornando difícil a construção de identidades e relações duradouras.

Bauman argumenta que a cultura pós-moderna também é influenciada pela liquidez. As formas de arte, comunicação e pensamento se tornaram mais fluidas e fragmentadas, resultando em uma sociedade onde é difícil alcançar uma verdade objetiva e um sentido coletivo.

De maneira geral, o pensamento de Zygmunt Bauman é uma crítica à sociedade moderna e suas tendências relativistas, questionando se a sociedade líquida é capaz de oferecer estabilidade e segurança para seus membros.

O hedonismo

O hedonismo é uma corrente filosófica que entende que o prazer é o maior bem e objetivo da vida humana. Segundo essa perspectiva, as ações são avaliadas a partir da quantidade e qualidade de prazer que elas geram. Desde os antigos gregos, com Epicuro e Aristipo, o hedonismo tem sido defendido como uma visão de vida que valoriza o prazer e o bem-estar individual.

Na história, o hedonismo tem se manifestado de diferentes formas, por exemplo: na época do Iluminismo, com a defesa do prazer sensual como fonte de felicidade; durante o período romântico, com a valorização do prazer estético e da subjetividade; e na atualidade, com a valorização da individualidade e da auto-realização.

No contexto da sociedade atual, o hedonismo tem se manifestado em diversas formas, tais como a busca pelo prazer sensual, a valorização do conforto e do bem-estar, a busca pelo prazer material e a valorização do prazer estético. Além disso, o hedonismo também está presente em movimentos como o individualismo e o consumismo, que defendem a satisfação das necessidades e desejos individuais como prioridade na vida.

Apesar de ser defendido como fonte de felicidade, o hedonismo também é criticado por muitos filósofos e pensadores, que argumentam que ele pode levar a uma vida superficial e vazia, além de ser uma forma de escapar das responsabilidades e da moralidade.

A contestação de qualquer autoridade – contracultura

A época atual é caracterizada por uma forte contestação de autoridades e tradições estabelecidas, tendo-se desenvolvido uma cultura de desconfiança em relação às instituições, às verdades universais e aos valores hegemônicos. Este movimento é chamado de contracultura, e tem como objetivo desafiar as normas sociais e os padrões aceitos pela sociedade dominante.

Este movimento tem tido impacto em diversos setores da sociedade, como política, cultura, economia e artes. Por exemplo, a contracultura tem influenciado o surgimento de novos movimentos políticos e ideológicos, como o movimento hippie e o punk, e o surgimento de novos movimentos artísticos, como a arte conceptual e o movimento punk. Além disso, tem influenciado a forma como as pessoas veem e questionam autoridades, verdades universais e valores hegemônicos.

No entanto, a contestação de autoridades também tem seus desafios e limitações, como a dificuldade em estabelecer novos valores e padrões sociais e a possibilidade de se tornar um movimento excessivamente individualista e egocêntrico.

11 — CONCLUSÃO:

O racionalismo: o sujeito tem o objeto como seu

O racionalismo é uma corrente filosófica que enfatiza a importância da razão e da inteligência na obtenção do conhecimento. Neste contexto, o sujeito é visto como tendo um papel central na construção do conhecimento, pois é através da sua razão e capacidade analítica que ele pode capturar a essência dos objetos e chegar à verdade.

De acordo com o racionalismo, a verdade é inata, ou seja, ela já existe independentemente da percepção humana e pode ser alcançada através do uso da razão. O racionalista René Descartes, por exemplo, defendia a ideia de que a verdade era acessível através da dúvida metódica, ou seja, através do processo de questionar e analisar todas as crenças e conhecimentos previamente adquiridos.

Outro pensador racionalista importante é Baruch Spinoza, que afirmava que a verdade era acessível através da compreensão das leis naturais que governam o universo. De acordo com ele, a razão era capaz de capturar essas leis e compreendê-las de forma clara e distinta, levando à verdade.

O racionalismo também é influenciado pelo pensamento de Immanuel Kant, que defendia a ideia de que a razão humana é capaz de dar forma e ordem aos dados sensoriais, produzindo conhecimento objetivo e universal. De acordo com ele, a verdade é alcançada através da aplicação da razão aos dados sensoriais e pode ser compartilhada por todos os seres racionais.

Em resumo, o racionalismo defende a ideia de que a verdade é inata e acessível através do uso da razão e da inteligência. Neste contexto, o sujeito é visto como tendo um papel central na construção do conhecimento, e a verdade é vista como uma propriedade do sujeito que tem o poder de capturar o objeto através da sua racionalidade analítica. Nesse contexto, o racionalismo está perfeitamente afinado ao pensamento antigo, por exemplo, grego. De modo que a relação do racionalismo com a lógica corresponde ao que tratamos no inicio do texto. No qual mostramos que o problema da verdade estava circunscrito ao problema do pensamento correto. Da Lógica. Enquanto hoje diversos elementos — alguns destes elementos histórico-sociais — incidem na compreensão do que seria verdadeiro.

O empirismo, o objeto se impõem ao sujeito

O empirismo é uma corrente filosófica que defende a ideia de que todo conhecimento vem da experiência sensorial. De acordo com os empiristas, não há ideias inatas no ser humano, e tudo o que sabemos é resultado da observação dos fenômenos externos.

John Locke, por exemplo, argumentou que todo conhecimento é construído a partir da observação sensorial dos objetos e que as ideias são simplesmente combinações dessas percepções sensoriais. Segundo ele, o intelecto humano é uma tábua rasa, e só é possível conhecer algo através da experiência sensorial.

Outro filósofo importante do empirismo é George Berkeley. Ele argumentou que todo conhecimento é subjetivo, e que o mundo só existe na medida em que é percebido. Para Berkeley, a existência de um objeto não é independente da percepção, e as coisas só existem porque são percebidas.

Finalmente, David Hume defendeu que as ideias derivam de impressões sensoriais, e que todo conhecimento é relativo às nossas experiências sensoriais. Ele argumentou que não é possível ter certeza absoluta sobre qualquer coisa, pois todo conhecimento é subjetivo e limitado pelos nossos sentidos.

Em resumo, o empirismo afirma que todo conhecimento vem da experiência sensorial, e que não há verdades inatas no ser humano. A observação dos fenômenos externos é a base para o conhecimento, e as ideias são resultado dessas percepções sensoriais.

Kant e Hegel – O sujeito constrói o objeto

Immanuel Kant e Georg Wilhelm Friedrich Hegel têm concepções distintas sobre a relação entre sujeito e objeto no conhecimento.

Kant vê o conhecimento como resultado da interação entre o sujeito cognoscente e o objeto conhecido. Para ele, o sujeito traz consigo categoria a priori, como a espacialidade e a temporalidade, que são aplicadas aos dados sensoriais para construir a percepção do objeto. Desta forma, o conhecimento é uma construção ativa do sujeito, mas o objeto conhecido ainda é visto como algo distinto do sujeito.

Por outro lado, Hegel entende que a relação entre sujeito e objeto é dialética, isto é, há uma interação constante entre eles que conduz ao conhecimento. Para Hegel, o conhecimento é o resultado de uma mediação entre o sujeito e o objeto, sendo que essa mediação é realizada através do pensamento. Desta forma, o conhecimento é visto como algo que evolui constantemente, ao longo da história, com o desenvolvimento da consciência humana.

Em resumo, Kant entende o conhecimento como resultado da aplicação de categoria a priori pelo sujeito cognoscente aos dados sensoriais, enquanto Hegel vê a relação entre sujeito e objeto como dialética, onde o conhecimento é o resultado de uma mediação constante entre eles.

O pensamento fenomenológico – o sujeito-objeto cooperam

A fenomenologia é uma corrente filosófica que tem como objetivo estudar a consciência e a percepção da realidade a partir da perspectiva do sujeito. Segundo a fenomenologia, o conhecimento não é uma representação da realidade, mas sim uma construção da própria consciência.

Eduard Husserl, o fundador da fenomenologia, defende que o conhecimento é uma relação dialética entre o sujeito e o objeto. Nesta relação, o sujeito e o objeto se influenciam mutuamente e há uma interação entre eles. Não há uma identidade entre o sujeito e o objeto, mas sim fluxos de troca.

Martin Heidegger, um dos discípulos de Husserl, desenvolveu a fenomenologia de uma maneira mais profunda e abrangente. Heidegger enfatiza a importância da relação do sujeito com o mundo, e não apenas com o objeto individual. Para Heidegger, o sujeito e o mundo são interdependentes e o conhecimento é uma relação dialética entre o sujeito e o mundo.

A questão da relação entre o sujeito e o objeto é importante no pensamento pós-moderno, pois a pós-modernidade questiona a verdade objetiva e universal. A pós-modernidade defende a ideia de que a verdade é subjetiva e relativa, e que o conhecimento é sempre parcial e limitado. O pensamento pós-moderno tem uma abordagem crítica e cética em relação aos valores e ideias da modernidade.

A linguagem como incapaz de apreender o objeto, pois mascara a indeterminação do objeto pela englobarem deste pela linguagem [que cria a noção de substancia]

A partir de Derrida, a linguagem é compreendida como incapaz de apreender o objeto de maneira verdadeira ou objetiva. Para ele, a linguagem não é uma mera representação da realidade, mas também uma construção da realidade. Isso significa que a linguagem não apenas descreve o objeto, mas também o molda e o define. Derrida argumenta que a linguagem é insuficiente para apreender o objeto, pois ela o mascara ao "englobá-lo", ou seja, ao dar-lhe uma identidade ou substância. A linguagem, assim, cria a noção de substância, mas isso é uma ilusão, uma vez que a realidade é constantemente em fluxo e indeterminada.

Derrida argumenta que a metafísica substancialista é uma consequência da linguagem. A noção de substância é uma forma de dar uma identidade ao objeto, de fixá-lo, de estabelecer sua existência independente do sujeito. Mas isso é uma ilusão, pois a realidade é sempre dependente da perspectiva do sujeito e da linguagem que ele usa para compreendê-la. A metafísica substancialista, portanto, é um produto da linguagem e da necessidade humana de estabelecer verdades absolutas e universais.

Derrida desafiou a noção de verdade objetiva e universal, e argumentou que a verdade é sempre subjetiva e relativa. Isso influenciou o pensamento pós-moderno, que questiona as verdades estabelecidas e as noções de objetividade e universalidade. Em vez de buscar verdades absolutas, o pensamento pós-moderno valoriza a diversidade de perspectivas e a multiplicidade de interpretações.

O sujeito-objeto no pensamento pós-moderno [de Deleuze]

A crítica de Derrida à linguagem se concentra na questão da relação sujeito-objeto, argumentando que a linguagem não é capaz de apreender o objeto de forma plena e precisa. Segundo ele, a linguagem mascararia a indeterminação do objeto, enquanto cria uma noção de substância. Em sua opinião, a metafísica substancialista é uma consequência da linguagem, que tende a fixar o objeto em uma essência permanente, limitando assim a sua compreensão.

Derrida defende a tese da "desconstrução" da linguagem, argumentando que a linguagem é cheia de contradições, equívocos e conflitos internos, que impedem uma compreensão objetiva do objeto. Ele propõe, então, uma revisão crítica das noções de verdade e significado, a fim de problematizar a relação entre a linguagem e a realidade.

Em suma, a crítica de Derrida à linguagem no contexto da relação sujeito-objeto é que a linguagem não é capaz de apreender o objeto de forma objetiva e precisa, devido às contradições e limitações internas da linguagem.

Finalzinho da conclusão

A passagem do pensamento antigo para o moderno e, posteriormente, para o contemporâneo foi uma jornada repleta de transformações e questionamentos filosóficos. A filosofia antiga era fortemente influenciada pelo pensamento substancialista, ou seja, a ideia de que a realidade era composta por substâncias imutáveis e eternas.

Com a chegada da Modernidade, pensadores como John Locke, René Descartes e David Hume mudaram a forma como se compreendia a realidade e a relação sujeito-objeto. Locke, por exemplo, defendia a ideia de que o conhecimento é adquirido a partir da experiência sensorial, enquanto Descartes buscava uma certeza absoluta através da dúvida metódica. Já Hume argumentava que a verdade é relativa e que não há uma correspondência absoluta entre as ideias e o mundo.

No século XVIII, Immanuel Kant mudou a forma como a filosofia era compreendida ao defender a ideia de que o conhecimento é construído através da interação do sujeito com o objeto, e não uma simples representação deste. A filosofia de Kant teve uma grande influência na filosofia de Georg Wilhelm Friedrich Hegel, que defendia a ideia de que a realidade é construída a partir da interação dialética entre sujeito e objeto.

No século XX, a filosofia foi marcada pela emergência do pensamento pós-moderno, que questionou as certezas da Modernidade e buscou compreender a complexidade da realidade. Martin Heidegger, por exemplo, questionou a natureza da existência humana e o papel da linguagem na construção da realidade. Já Jacques Derrida, em sua obra "Of Grammatology", argumentou que a linguagem é incapaz de apreender o objeto, pois masqueia a indeterminação deste.

Michel Foucault e Gilles Deleuze também contribuíram significativamente para o pensamento pós-moderno, questionando as verdades universalistas da Modernidade e explorando as interações entre poder, conhecimento e subjetividade.

Em resumo, a passagem do pensamento antigo para o contemporâneo foi marcada por transformações profundas na compreensão da realidade e da relação sujeito-objeto. Desde a defesa da verdade absoluta da filosofia antiga, passando pelo empirismo e racionalismo da Modernidade, até a crítica à linguagem e à verdade universal do pensamento pós-moderno.

***

A lógica é uma disciplina filosófica que estuda as formas válidas de raciocínio e argumentação. Ela foi desenvolvida desde a Antiguidade como uma ferramenta para a busca da verdade. No entanto, com o avanço das ciências sociais, históricas, antropológicas e linguísticas, a noção de verdade se expandiu além da pura lógica formal. A gnoseologia, por sua vez, é a parte da filosofia que estuda a natureza do conhecimento humano.

 

No período moderno, a influência dessas ciências e a crítica às verdades absolutas levou a uma maior subjetividade no pensamento. O pensamento moderno buscou desconstruir a lógica tradicional para dar lugar a uma pluralidade de perspectivas e verdades. A pós-modernidade ainda ampliou essa tendência, questionando a possibilidade de uma verdade objetiva e valorizando a perspectiva individual e cultural.

A noção de verdade hoje é compreendida como uma construção social, histórica e subjetiva, muitas vezes influenciada pelo contexto político e cultural. Essa tendência é marcada pelo "Zeitgeist" de nossa época, ou seja, o espírito do tempo que reflete a pluralidade e a movimentação das verdades.

Em resumo, a relação entre a Lógica, Gnoseologia, Pensamento Moderno e Pós-Moderno é de evolução e distanciamento da Lógica clássica para uma compreensão mais plural e subjetiva da verdade.

FIM

 

Thiago Carvalho, 2023

Comentários

Postagens mais visitadas