ESBOÇO PRELIMINAR PARA UM LIVRO

 




 



Vivemos em uma época profundamente marcada pela barbárie. Embora seja um fato óbvio, a simplicidade dessa realidade ainda enfrenta grande resistência em ser reconhecida. É como se não fosse possível enxergar a ilha sem sair dela. Nesse contexto, surge a pergunta: o que alimenta essa mentira? A resposta está no cinismo, a forma mais extrema da busca pela falsidade e pela negação da verdade. A vontade de inverdade sustenta uma série de comportamentos e atitudes que caracterizam a nossa era.

Em primeiro lugar, o cinismo sustenta o egoísmo, uma vontade desenfreada de poder e dinheiro que transforma as pessoas em verdadeiros animais sedentos por acumulação, dominação, manipulação. O individualismo impera, colocando os interesses pessoais acima dos valores coletivos. Nessa lógica, a solidariedade e o bem comum são relegados a segundo plano, em detrimento da busca incessante por benefícios pessoais.

Além disso, o cinismo promove o exibicionismo e o narcisismo.

A sociedade atual é marcada por uma cultura do vazio, onde a aparência e a ostentação ganham mais importância do que a essência. As redes sociais potencializam essa tendência, incentivando as pessoas a se exporem constantemente, em busca de validação e reconhecimento superficial. A autenticidade é substituída pela busca desesperada por likes e seguidores, reforçando a superficialidade das relações interpessoais.

A cultura da ostentação também é alimentada pela vontade de inverdade. Vive-se uma era em que o ter suplanta o ser. O valor de uma pessoa é medido pela quantidade de bens materiais que possui, pelo status social que ostenta apenas (sem considerar outras dimensões ou fatores). A busca pelo luxo e pelo consumo desenfreado é incentivada, mesmo que isso implique em desigualdades gritantes e na destruição do meio ambiente.

Nesse cenário, a insignificância sistemática prevalece.

A verdadeira importância das coisas é relegada a segundo plano, pois o que importa é a imagem que se projeta para os outros. A superficialidade permeia todas as esferas da vida, desde as relações pessoais até as decisões políticas e sociais.

Portanto, é inegável que vivemos em uma época profundamente bárbara.

A vontade de poder e inverdade, expressa pelo cinismo, sustenta uma série de comportamentos que refletem a decadência moral e ética da nossa sociedade. Para que possamos superar essa barbárie, é necessário reconhecer esse problema e buscar uma transformação profunda, baseada em valores autênticos, solidariedade e respeito ao próximo. Somente assim poderemos construir um mundo mais humano e verdadeiramente civilizado.

 

ESTRUTURA GERAL DO LIVRO: A lógica contemporânea, cinismo e barbarismo

1.      O cenário contemporâneo;

a.      Nietzsche: morte de Deus;

b.      Lipovetsky: era do vazio;

c.      Baumann: liquidez, fragmentação e cegueira moral;

2.       A barbárie;

a.      Kali Yuga;

b.      Sociedade de massa no século XIX, XX e XXI;

c.      Mário Ferreira dos Santos;

3.      A obstrução dos fatos à vista;

a.      Técnica: a luta e a vitória do não-ser e não-pensar;

b.      Informação;

c.      Sociedade: instituições e valores;

d.      Relativismo, subjetivismo, pós-verdade;

e.      Relativismo e pragmática da linguagem;

f.       A vontade de inverdade e pontos de vista;

g.      O problema do ser e da verdade – de Sócrates até Heidegger;

h.      Conclusão – consequências.

4.      O cinismo:

a.      Expressão da vontade de inverdade;

b.      As fantasias de poder descritas por Pierre Weil;

c.      Mentira, egoísmo e individualismo;

5.      O exibicionismo e espetáculo;

6.      O narcisismo;

7.      A cultura da ostentação;

8.      A cultura da violência;

9.      A insignificância sistêmica: o problema do silenciamento e invisibilização;

10.   O problema ético — aprofundamento ético;

11.   Conclusão: a necessidade de transformação profunda.

 

Thiago Carvalho

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