NOÇÕES DE LÓGICA – PARTE I: PRÍNCIPIOS PRIMEIROS DA LÓGICA ANTIGA
PARTE I – PÍLUA
FILOSFÓFICA
1 — NOÇÕES GERAIS DE LÓGICA
Definição de lógica
Pensei em deixar a definição de
lógica para depois. No entanto, acredito que é melhor começar pela definição.
Ainda que não seja o assunto da apresentação. Vamos, contudo, a definição,
porque nos ajudará a referenciar o que dizemos.
A Lógica, em estrito senso, é uma
área da filosofia que visa estudar a estrutura formal dos enunciados
(proposições) e suas regras. A lógica serve para se pensar corretamente, sendo
assim, uma ferramenta do correto pensar. Lógica tem origem na palavra grega,
logos, que significa razão, argumentação ou fala.
Assim, seu objeto é o pensamento
correto.
E não se limita a uma faculdade
acadêmica, mas a uma faculdade natural do homem — todos os homens sabem pensar
logicamente. Razão pela qual muitos povos trabalharam no seu desenvolvimento. E
o problema do erro estaria, antes de tudo, nos vieses das partes [e não numa
capacidade de alguns].
Um pouco de história da lógica
A história da lógica documenta o
desenvolvimento da lógica em várias culturas e tradições. Apesar de muitas
culturas terem usado complicados sistemas de raciocínio, somente na China,
Índia e Grécia os métodos de raciocínio tiveram um desenvolvimento sustentável.
Embora as datas sejam incertas, especialmente no caso da Índia, é possível que
a lógica tenha imergido nos três países por volta do século IV a.C. A lógica
moderna descende da tradição grega, mas também há influências de filósofos
islâmicos e de lógicos europeus da era medieval que tiveram contato com a
lógica aristotélica.
Na Grécia, duas importantes
tradições emergiram. A Lógica estoica com as suas raízes em Euclides de Mégara,
um pupilo de Sócrates, e é baseada na lógica proposicional que talvez foi a
mais próxima da lógica moderna. Entretanto, a tradição que sobreviveu para mais
tarde influenciar outras culturas foram a lógica aristotélica, o primeiro
tratado grego sobre a sistematização da lógica. Na inspeção de Aristóteles
sobre os silogismos há quem diga que existe uma interessante comparação com o
esquema de inferência dos indianos e com a menos rígida discussão chinesa.
Em Aristóteles, nossa referência no
Ocidente, a Lógica se inicia como instrumento capaz de determinar o raciocínio
correto, assim como de contribuir para a construção de conhecimento seguro.
Por instrumento se quer dizer algo
capaz de ser em virtude de alguma coisa — um martelo, por exemplo, é um
instrumento que age em virtude da ação humana e, inclusive, para um fim. Algo
semelhante ocorre à Lógica. Ela é, assim, um modo de evitar raciocínio errado.
Assim como um meio pelo qual — pelo uso do silogismo — possamos construir
conhecimento.
Os três princípios lógicos
Antes do próximo parágrafo será
necessário dizer algo sobre as leis gerais da lógica.
Às três leis gerais da lógica
funcionam como as colunas ou pés que asseguram a sua validade.
Assim um raciocínio está correto
quando não fere princípios elementares do discurso. A saber, princípio da
identidade, da não contradição e do terceiro excluído. Aos quais veremos a
seguir com maiores detalhes.
O princípio da identidade, em
resumo, diz respeito à veracidade das ideias, isto é, dizer que uma mesa é uma
mesa, que um livro é um livro, etc. Ele assegura que uma proposição é igual a
si mesma. O princípio da não contradição estabelece que uma proposição não pode
ser, ao mesmo tempo, falsa e verdadeira. Por fim, o princípio do terceiro
excluído determina que uma proposição é falsa ou verdadeira. Vamos conhecer
melhor esses três princípios. Não é suficiente dizer assim tão resumidamente.
Esse princípio foi formulado por
Parmênides de Eléia, um filósofo grego que empreendeu estudos sobre a lógica,
ontologia e metafísica. A base dessa lei é que todo objeto é idêntico a si
mesmo.
Em outras palavras, a = a e b = b.
Logo, “a” sempre será igual a “a”,
e “b” sempre será igual a “b”. Um exemplo de aplicação prática dessa lei é
dizer que um gato é um gato, assim como uma vaga é uma vaga [porque se um gato
for uma vaca “algo errado não está certo”]. No caso ocorre de dizer que algo é
igual a si mesmo, portanto, assim me parece, é um tipo fundamental de redundância.
Para entender a pertinência desse
princípio é essencial conceituar identidade como o conjunto de caracteres
próprios e exclusivos que ajudam a identificar animais, pessoas e plantas.
Embora pareça óbvio, tem grande relevância para a lógica.
Princípio da não contradição
Esse princípio estabelece que duas
afirmações contraditórias não podem ser verdadeiras ou falsas, uma delas é
verdadeira enquanto a outra é falsa. Por exemplo, as duas afirmações seguintes
não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo: “X é Y” e “X não é Y”. Ou é ou não é.
Ou, vamos a um exemplo prático, se Anderson Cruz está em casa, ele não poderia
está ao mesmo tempo no supermercado. Ou se ele está dormindo [este é seu modo
de ser agora, isto é, dormindo], ele não poderia está acordado. No caso, duas
propriedades, condições, estados opostos não podem coexistir na mesma
substancia (ente). E o famoso “de duas uma”.
O princípio da não contradição foi
formulado primeiramente por Aristóteles, quando ele afirmou que uma proposição
não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo. Logo, na lógica clássica
nenhuma afirmação pode ser falsa e verdadeira concomitantemente [ao mesmo
tempo]. A lei do terceiro excluído é um complemento da lei da não contradição.
Princípio do terceiro excluído
Basicamente, o que esse princípio
estabelece é que para qualquer proposição há duas possibilidades: ou ela é
verdadeira ou a sua negação é verdadeira. Logo, se há duas proposições
contraditórias uma delas é verdadeira e a outra é falsa. Ambas não podem ser
verdadeiras e nem ambas podem ser falsas. Vamos a um exemplo prático! Ou é
verdade que Daniel Alves estuprou uma garota na Espanha, ou não é verdade (ou
seja, ou é falso). Isso significa dizer que Daniel Alvez não poderia fazer as
duas coisas — estuprar, e ao mesmo tempo não estuprar. Se uma coisa ocorre, a
outra não poderia ocorrer.
O silogismo na construção do
conhecimento
— Por conta dessa parte, caro
leitor, ser um pouco maçante, você poderá pula-lo sem prejuízo da leitura!
Com origem na palavra grega
"syllogismos", que significa "conclusão" ou
"inferência", um Silogismo é um tipo de argumento lógico que aplica o
raciocínio dedutivo para extrair uma conclusão de duas ou mais proposições, que
se supõe sejam verdadeiras. Sua forma clássica é assim:
1.
Todo
M é P.
2.
S
é M.
3.
Conclusão:
S é P.
O que isso significa?
Primeiro, as letas são palavras.
Palavras iguais, letras iguais. Palavras diferentes, letras diferentes.
Portanto, eu não sei o que é M, mas sei que P é diferente de M. Iremos, assim,
agora, a fim de ilustrar, substituir letras por palavras. Assim é mais fácil.
1.
Todo
homem é mortal.
2.
Sócrates
é homem.
3.
Logo,
Sócrates é morta.
Ou seja:
1.
Todo
homem (M) é moral (P).
2.
Sócrates
(S) é moral (P).
3.
Logo,
Sócrates (S) é mortal (P).
Nesse caso temos um silogismo
dedutivo perfeitamente lógico e verdadeiro.
No entanto, isso serve para
construir conhecimento? Sim, usando o silogismo na modalidade indutiva podemos
construir conhecimento sobre coisas que estão na ordem no mundo dos fatos. Por
exemplos, podemos construir leis naturais, assim como ir ao laboratório usando
o velho esquema lógico de Aristóteles. Irei mostrar como!
No caso do silogismo indutivo
ocorre de partimos do especifico para o geral — o movimento do pensamento é o
inverso do silogismo dedutivo. Veja o exemplo abaixo!
Todo gato é mortal.
Todo cão é mortal.
Todo pássaro é
mortal.
Todo peixe é mortal.
Logo, todo animal
é mortal.
O que temos nesse silogismo é uma
comparação — por exemplo, se todos os animais que conhecemos são mortais, é
fácil concluir que todos os animais (inclusive o que nós não conhecemos) são
mortais. No entanto, não temos garantia de que a conclusão seja verdadeira. Não
podemos dizer que todos os animais são mortais — por mais que acreditamos nisso
— porque ninguém conhece todos os animais.
O químico quando diz que a água
ferve a 100 graus Celsius o fez por indução. Ele não ferveu todas as águas. Ele
está concluindo isso por estar apressado. A ciência, assim, em parte funciona
com base no pensamento indutivo aristotélico.
Nota: a leitura somente estará
completa após lermos todas as partes – a divisão tem a função de não deixar o
texto cansativo demais.
Thiago Carvalho, 2023
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