Além da Névoa de Dados: Navegando na Era da Hiperinformação


 




O tempo presente é caracterizado por uma série de mudanças profundas. Desde a Idade Média até a Moderna e a Pós-Moderna, o homem encontra-se agora imerso no paradigma da informação, que por si só é desafiador de compreender, classificar e utilizar. Estamos testemunhando um certo descontrole em relação à informação e ao conhecimento.

Hoje, contamos com dispositivos de informação incrivelmente avançados, permitindo a transmissão de informações de qualquer parte do mundo para outra. No entanto, esse avanço traz consigo desafios significativos. Vivemos em uma era de hiperinformação, em que estamos imersos em uma névoa de dados, oscilando entre a escassez e o excesso.

Contrariamente ao que se poderia esperar, o excesso de informação não resulta em indivíduos super informados e conscientes das complexidades do mundo. Pelo contrário, cria um estado de desinformação e apatia, à medida que somos inundados por uma abundância de informações que chegam a nos saturar. O acúmulo de informações não nos integra nem nos define; ao contrário, corremos o risco de nos perder nesse mar de dados, incapazes de discernir sua relevância ou significado.

Assim, encontramo-nos em um estado de indefinição, ainda que capazes de criar e sustentar certos mitos e ficções. Somos indivíduos subinformados, incapazes de filtrar adequadamente, mas ainda assim firmemente convictos de possuir a verdade em meio à escassez de nosso próprio ser e ambiente.

Mas afinal, o que é informação e como ela se manifesta? A informação é o ato de comunicar em ação, abrangendo notícias, conhecimento e ciência. No entanto, é importante ressaltar que o homem não é capaz, nem é benéfico, absorver todas as informações disponíveis. A receptividade à informação deve ser limitada, pois toda mensagem, ao ser transmitida do emissor para o receptor, sofre alguma perda ou distorção.

Portanto, ouvir torna-se uma atividade técnica que requer uma teoria capaz de decodificar a mensagem. No entanto, surge o desafio da ideologia e da realidade: durante o processo de transmissão, a informação é afetada pelo ruído da ideologia, que tenta substituir ou transcrever a realidade conforme sua própria idealidade. Isso ocorre como parte de um esforço para influenciar e dominar as mentalidades, dentro do que chamamos de paradigma. O paradigma surge como uma racionalidade fechada pela ideologia, mas a informação tem o potencial de desafiar essa racionalidade, abrindo caminho para uma nova construção de ideais que aspiram à realidade.

Diante desse movimento e da luta entre o real e o ideológico, o homem busca discernir nas informações o que é verdadeiro, utilizando como critério de verdade a confrontação e a concordância do sujeito. Esse processo reflete uma tendência tipicamente heideggeriana: na pós-modernidade, o valor metafísico se desloca do mundo exterior para o interior do sujeito, onde a verdade é construída e questionada.


Thiago Carvalho, 2020

Morin, Edgar. Para sair do século XX. Tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, .

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