AFORISMOS

 





1. Na vida adulta, a ternura, a inocência, a bondade, a generosidade e a humildade de coração ofendem.

2. O crente é a máscara do diabo, do medo e da miséria.

3. A religião para as almas ternas é desnecessária e prejudicial. 

4. O cristianismo, ao menos o popular, neopentecostal, multiplica as dores: torna a vida ainda mais difícil com tanta proibição, censura, ressentimento e pecado.

5. Deus é um preconceito sobre a origem das coisas e sobre o valor da vida.

6. A avaliação moral do outro, essa coisa de pôr o outro em uma balança, de o avaliar segundo os critérios comunitários, segundo o pensamento popular, é claramente a negação da cultura, e as decisões ficam a cargo da moralidade, isto é, segundo a avaliação tosca de se a pessoa é boa ou má, isto é, útil ou inútil na perspectiva, quase sempre, de quem não tem capacidade técnica de avaliar as coisas: estudante, o cidadão, a mulher, o velho e a criança.

7. Os homens de razão têm sido historicamente vistos como excêntricos desde a Grécia antiga, quando os sábios eram considerados loucos por questionar o conhecido e buscar respostas para questões aparentemente irrelevantes. No entanto, hoje em dia, mesmo entre as pessoas comuns, é amplamente reconhecido que é através de nossa inteligência que buscamos clareza, certeza e coerência. Enfrentamos também as forças hostis do mal, representadas muitas vezes pelas massas. Diante disso, como devemos agir? Eu, pessoalmente, prefiro usar as mesmas armas e estratégias contra eles. Sinto-me inclinado a responder à rejeição da razão, da coerência, da nobreza e da luz com uma atitude que lhes cause tanto mal quanto eles nos causam.

8. No Brasil, há uma grande quantidade de pessoas com recursos financeiros consideráveis, muitas vezes sem um alto nível de educação, sendo comum entre mulheres que têm origens familiares abastadas ou que, por sua beleza, se casaram com homens de classe média alta. Nos homens, uma situação semelhante é observada, muitas vezes associada ao envolvimento com drogas, crime ou política.

9. A filosofia, não raro, é a história da dor humana: não há nela senão as questões sobre as dores autor, da espécie e da sociedade.

10. Somente os filósofos e os doentes mentais são capazes de inocência.

11. Aqui no país quem não almeja ganhos, aparência, comida, promiscuidade, enfim, ter dinheiro, é um amaldiçoado: um câncer, não segundo os critérios de um ou outro, mas da população e da comunidade. Não por acaso que os jovens matam e traficam para fazer dinheiro, comprar boas roupas, comprar carros, comprar motos, comprar bons cordões de prata ou mesmo ouro.

12.  A mais bela prova formal, lacônica, lógica, da existência de Deus não resolve o problema do sofrimento e do mal. 

13. A presença ou ausência de dinheiro não é o ponto crucial, mas sim como ele é utilizado dentro da lógica da vida cotidiana, o que muitas vezes atrai uma grande agressão para nós. Tanto crianças, adolescentes quanto adultos percebem a diferença, e especialmente quando encontram um coração alegre e terno, mesmo que a pessoa não seja considerada bonita ou inteligente, eles se sentem superiores. Há uma profunda verdade nisso. O que é ainda pior é que muitas dessas pessoas se consideram religiosas, mas sua escala de valores está completamente alterada. Isso não é apenas uma suspeita, mas é evidente em suas palavras e ações. A atualização constante está sempre ligada ao dinheiro, ao corpo, à alimentação, ao sexo e à satisfação pessoal. A única diferença, em certa medida, entre um cristão e os outros é que para o cristão, a sabedoria não está tão vinculada à sexualidade e a certos tópicos específicos, mas em geral são poucos aqueles que podemos considerar minimamente cristãos. Isso é uma prova vívida, para mim, marcada na carne e no sangue, de que não há mais verdadeiros cristãos nem verdadeiro cristianismo, e que tudo isso se tornou um grande ciclo de farsas e hipocrisias.

14. A feiura humana se revela quando o homem, desprovido de suas máscaras, expõe seu "mundo interior", transformando-se no animal mais repugnante, mesmo que sua aparência externa seja agradável. Sua alma está desconectada da razão, incapaz de reconhecer qualquer ordem ou parâmetro de realidade além de sua própria vontade - e que vontade estúpida!

15. A importância dos maus afetos reside em seu potencial para desencadear uma gama de emoções e motivações que podem influenciar significativamente nossas ações e percepções. Enquanto as crianças tendem a ver o mundo em termos de oposições simples, como o bem e o mal, com pouca consideração para nuances ou sombras, à medida que envelhecemos, percebemos que as emoções consideradas negativas, como o ódio, podem ter aspectos complexos e até mesmo positivos. Embora o ódio, o ciúme e o egoísmo sejam geralmente vistos como emoções destrutivas, eles também podem servir como fontes de energia psíquica e motivação, até mesmo para questões existenciais. Por exemplo, o ódio pode impulsionar a busca pela justiça em face de injustiças percebidas no mundo. Isso ilustra como podemos usar uma força negativa para construir algo positivo, desde que haja controle emocional e inteligência envolvidos.

16. O caráter e a moral são aspectos fundamentais da conduta humana, muitas vezes subestimados nos dias de hoje. A verdade é que aqueles que são genuínos e virtuosos frequentemente têm uma compreensão mais profunda da importância dos valores morais tradicionais. Infelizmente, essa noção é cada vez mais negada na sociedade contemporânea. Isso ocorre em parte porque muitos rejeitam qualquer forma de tutela e valorizam apenas a liberdade absoluta, mesmo que isso signifique sacrificar o bem-estar coletivo. Muitos podem até respeitar valores como os da família, do corpo, da razão e da fé, mas desdenham daqueles que representam ou aspiram ser os pilares da moralidade. Apesar de serem poucos e geralmente encontrados em comunidades menos privilegiadas, ainda é possível encontrar indivíduos humildes, de coração nobre, que vivem de acordo com os valores nobres do passado. Esses "senhorzinhos" são exemplos vivos de como os bons valores ainda podem florescer mesmo em meio a um ambiente que muitas vezes os desvaloriza.

17. A inversão estética na nossa época não se resume apenas à perda e inversão de valores, onde o que é mau é transformado em bom. É, acima de tudo, uma incapacidade de apreciar o belo quando este se manifesta através da ordem, simetria, coerência e sobriedade - elementos que tradicionalmente são associados à beleza. Nesse contexto, até mesmo o que é belo é muitas vezes transformado em algo feio. É como se houvesse um estranho ódio em relação à própria ideia de beleza quando está associada a esses princípios clássicos.

18. O cristianismo, quando fundamentado na razão e no estudo, representa o último bastião vivo das antigas tradições filosóficas da humanidade. Nele, encontramos vestígios das antigas escolas de pensamento, onde os indivíduos se reuniam em busca da sabedoria, sob várias desculpas, para expandir seu conhecimento sobre a natureza do ser. No entanto, essa realidade muitas vezes não é claramente percebida devido a dois principais motivos. Primeiramente, a falta de experiências religiosas profundas contribui para obscurecer a compreensão do verdadeiro propósito e valor do cristianismo. Em segundo lugar, a mídia tende a focar mais nos aspectos negativos da vida cristã e no comportamento de líderes religiosos, destacando os problemas em vez de reconhecer suas dedicações aos estudos, à busca da verdade e ao conhecimento metafísico relacionado ao espírito e à alma. Esses dois fatores acabam por obscurecer a verdadeira essência do cristianismo como uma tradição que, quando explorada com rigor intelectual e comprometimento, oferece um caminho para o enriquecimento espiritual e intelectual dos indivíduos.

19. É imperativo que surjam novos intelectuais capazes de resgatar a máxima romana que preconiza o castigo dos maus costumes por meio do riso. Precisamos de satiristas habilidosos que se dediquem a criticar o mundo superficial que nos cerca. Caso contrário, corremos o risco de nos afundarmos em uma brincadeira infantil, onde o culto desenfreado ao sexo prevalece como vemos hoje. Desprezar o espírito em prol de impulsos primários é um verdadeiro ato de barbarismo que precisa ser confrontado e corrigido.

20. O agir moral é frequentemente percebido como algo impossível, indesejado e difícil para muitos. No entanto, na essência, não há nada de intrinsecamente difícil no agir moral: ele se resume principalmente em evitar agir impulsivamente e em vez disso, agir de acordo com a razão e a ética. Portanto, o verdadeiro desafio não está no ato de agir moralmente, mas sim em cultivar a razão e a ética como princípios orientadores do caráter.

21. A consciência do erro é um aspecto fundamental e, embora possa ser difícil, é crucial para compreendermos a nós mesmos e nossos equívocos, tanto a nível individual quanto coletivo. Reconhecer nossos erros exige um profundo conhecimento de quem somos, nossa posição atual e a definição de metas para promover mudanças positivas em nossas vidas e em nossas comunidades. Ao enfrentar nossos erros com honestidade e humildade, abrimos espaço para o crescimento pessoal e para a transformação social. É através desse processo de conscientização e autorreflexão que podemos aspirar a alcançar novos patamares, construindo espaços mais positivos e promovendo uma cultura de aprendizado contínuo e evolução constante.

23. Anjos entre nós. — Se os anjos, isto é, seres de coração terno e espírito transcendental, viessem ao mundo, como sofreriam! Seriam tentados mais uma vez a abdicar de Deus em nome, não do mundo celeste, mas do mundo terreno. Não bastasse isso, seriam, caso optassem por Deus, frequentemente desprezados pelo mundo dos homens. Compartilhando de uma dupla natureza, celeste e corpórea, seriam dilacerados por tal tensão: sua natureza não lhes permitiria optar totalmente pelo mundo terreno, vendo-se, enquanto corpos, sofrendo por necessidades carnais e, contudo, aspirando ao Espírito Primeiro, Uno e Puro. Além disso, tal apelo tem pouco sentido hoje, não porque nós não acreditamos em anjos, mas porque não acreditamos na simplicidade e na verdade do espírito.

24. O relativismo moral apresenta desafios significativos. Em primeiro lugar, afirmar sua existência sugere que devemos abandonar tradições ou mesmo a moral cristã, sem um parâmetro fixo pelo qual nos guiar, deixando essa escolha ao arbítrio do sujeito. Em segundo lugar, embora essa abordagem possa parecer logicamente coerente, não necessariamente implica em benefícios sociais práticos, especialmente considerando a degeneração, hipocrisia e mentira social que são tão prevalentes. Idealmente, as coisas não deveriam ser assim. Em terceiro lugar, sugere-se que qualquer perspectiva moral seja igualmente coerente e válida, embora isso não seja necessariamente o que se pretende afirmar como fato. Portanto, o relativismo moral apresenta desafios tanto teóricos quanto práticos na busca por um equilíbrio entre liberdade individual e responsabilidade social.

25. O que é pertinente é simplesmente trazer essas ideias à nossa consciência, que muitas vezes está obscurecida. No entanto, essa tarefa é especialmente difícil, pois estamos profundamente imersos em outros valores e influências corruptoras, de modo que a verdadeira consciência é cada vez mais rara, perdida em meio à retórica demagógica.



 


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