A cultura do engano
A humanidade vista por dentro — vasculhada em seu interior, posta pelo avesso — é maquinalmente brutal. É difícil não reconhecer a brutalidade inerente à natureza humana, mesmo quando buscamos compreender a razão por trás de nossos atos. A sociedade, contudo, tende a maquiar esta brutalidade, cobrindo-a com uma máscara de civilidade e cultura.
Não vemos a brutalidade humana desta forma. Tomamos o
essencial no homem como seu acidente — como uma ocorrência. Porque estamos
imersos no plano da cultura. Os meios de comunicação, os jornais, as
instituições, etc. tratam de nos dizer o oposto; que os fins da cultura são
juntos, corretos e bons. Mas, como afirmou o filósofo Friedrich Nietzsche,
"a cultura é a maior ilusão da humanidade".
Os fins da cultura são malignos! Não é o caso quando se
trata de propostas de cultura — por exemplo, o pensamento filosófico de Platão
não tem nada de natural em seu projeto, assim como o projeto cristão. No
entanto, na prática, os fins da cultura não são determinados de verdade pelo
pensamento, discernimento e compreensão. O poder político, econômico e
ideológico tem muito mais influência sobre o rumo da cultura do que qualquer
ideia filosófica ou teológica.
Em "O Homem Sem Qualidades", o escritor austríaco
Robert Musil explora esta questão, questionando a validade da cultura como uma
construção humana que se propõe a disciplinar e civilizar as paixões brutais da
natureza humana. Musil argumenta que a cultura é insuficiente para conter a
brutalidade humana e que, na verdade, ela é uma forma de perpetuar a opressão e
a injustiça.
Em síntese, a cultura é uma construção humana que visa
civilizar a natureza bruta da humanidade, mas que, na verdade, é incapaz de
conter a brutalidade e, muitas vezes, serve como instrumento de opressão e
injustiça. Esta é uma questão que merece ser debatida e refletida, já que a
cultura tem um papel fundamental na moldagem da sociedade e de nossas relações
interpessoais.
Thiago Carvalho
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